Investigação de campo
A primeira saída de campo foi para a região do Douro, junto a Lamego tendo como fim a procura da planta Rhus.coriari, vulgarmente conhecida por sumagre que cresce nas arribas do Douro. Esta planta é considerada hoje em dia invasora, mas em tempos, antes da região demarcada do vinho do Porto, foi muito cultivada e transformada num pó de intensa cor vermelho escuro, depois, vendida nas manufaturas de curtimento de peles e tingimento de fios tecidos para todo o país e para exportação.
Descobri esta planta quando li um tratado medieval escrito por Rui Fernandes (Lamego,1531) que fez a corografia do lugar à volta de Lamego. Corografia é “estudo geográfico particular de uma região ou de um país”. A procura desta planta foi o gatilho para este estudo já que a partir dela poderia fazer a ligação entre o têxtil no seu contexto histórico, etnográfico e arqueológico e o seu lado estético e de uso. Assim, por intermédio da planta do sumagre, foi-me possível ter a experiência deste lugar, partindo na sua procura por entre a paisagem, por vezes agreste desta região que conheço bem. Surgiu então o interesse de querer saber mais sobre as plantas e do seu mundo, de como elas afetam a vida dos humanos e de como as temos usado ao longo dos tempos, poderá dizer muito da forma como vivemos.
Fui visitar o Herbário da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, através da sua conservadora a Prof. Doutora Cristiana Vieira que amavelmente se disponibilizou a ajudar. O sumagre visto ao microscópio, é um novo ser estranho e abstrato cheio de funções vitais. Esta visita repetiu-se até eu criar autonomia com o microscópio recolhendo imagens de outras fibras aumentadas, que provocou em mim a vontade de desenhar a partir daqueles serres. Os desenhos foram feitos com a mesmo pigmento presente nos seus folículos do sumagre.
As visões aumentadas de partículas da planta servem como modelos para o desenho que é feito com a própria matéria da planta. Ou seja, a partir do pó colorante do sumagre moído, misturado com um veículo faço a tinta com que executo os desenhos. Isto fez-me pensar da quantidade de possibilidades de tornar o invisível visível. E, mais importante, de como o invisível pode ser mais real do que o que se vê perfeitamente.
(O meu interesse por herbários vem de adolescente. Lembro-me de colocar dentro dos livros da minha mãe toda a espécie de plantas que ficavam perdidas nas páginas ao longo dos anos, que por vezes ainda hoje encontro). Na secção do arquivo do Herbário da Faculdade de Ciências, tive a oportunidade de ficar a conhecer como de conserva, qualifica e guarda uma espécie. É um processo fascinante totalmente manual, muito fácil de executar e com o qual se conserva uma espécie durante muitos anos. Constatei também que não existe nenhum arquivo, naquele Herbário, de plantas tintureiras .